terça-feira, 3 de junho de 2014

As minhas e as suas emoções para um bem comum




AS MINHAS E AS SUAS EMOÇÕES PARA UM BEM COMUM¹

Eloiza Pinheiro²
Bianca Fornari³

RESUMO: Por meio de contatos diretos e constantes com professores e alunos do ensino fundamental de 5ª a 8ª série, observa-se uma relação de reciprocidade entres aspectos cognitivos e afetivos no processo de aprendizagem, e de alguma forma a dimensão afetiva também interfere nesta ação. Por isso, considera-se importante a pesquisa sobre a emoção dentro da sala de aula, uma vez que a emoção permeia as relações que se dão no contexto educacional. Esta que pode aparecer de forma implícita ou explícita e como tal deve ser considerada pelo professor como relevante em sua ação pedagógica. Pois, à medida que professor e alunos se aproximam, passam a vivenciar as dificuldades de outra maneira. O grupo sente-se encorajado a saná-las, pois percebe que tem no professor um aliado comprometido com o sucesso de todos.

PALAVRAS-CHAVE: Professor; Emoção; Aprendizagem.

ABSTRACT: Through direct and constant contact with teachers and students of the elementary school of the 5 grade and 8 grade, there is a relationship of reciprocity between cognitive and affective in the learning process and in any way the affective dimension also interferes in this action. Therefore, it's important to do a research about the emotion in the classroom, since the emotion permeates the relationship that exists in the educational context. It may appear implicit or explicit and it should be considered as relevant in their educational action by the teacher. Since teachers and students are close, they live the difficultes in a different way. The group might be encouraged to overcome the problems, because they realize that they have the teacher as an allied and worried about their sucess.

KEYWORDS: Teacher; Emotion; learning.

1 INTRODUÇÃO

O ensino escolar tem sido uma constante na vida da autora, por várias razões, sendo a principal a de acreditar que a escola é um espaço cultural importante, construído historicamente pelo homem, para a sistematização do saber. O professor tem a possibilidade de desencadear uma ação transformadora em sala de aula, ação essa que não apenas torna possível ao aluno o apropriar-se do conhecimento, como constitui também, um meio eficaz de formar cidadãos responsáveis, envolvidos na luta por uma sociedade mais solidária e mais justa.
Como educadora, por meio de contatos diretos e constantes com professores e alunos do ensino fundamental de 5ª a 8ª série, observa-se uma relação de reciprocidade entres aspectos cognitivos e afetivos no processo de aprendizagem, e de alguma forma a dimensão afetiva também interfere nesta ação.
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¹ Artigo científico referente ao trabalho de conclusão de curso de Pós-Graduação Lato Sensu, em Psicopedagogia Organizacional.
²Orientanda.
³Professora Dr. Orientadora.
Por isso, considera-se importante a pesquisa sobre a emoção dentro da sala de aula, uma vez que a emoção permeia as relações que se dão no contexto educacional. Esta que pode aparecer de forma implícita ou explícita e como tal deve ser considerada pelo professor como relevante em sua ação pedagógica. A emoção fornece o primeiro e o mais forte vínculo entre os seres da espécie humana. É fundamental observar o gesto, o olhar, a mímica, a expressão facial da criança, pois tudo isto faz parte da sua constituição emocional.

 “O corpo, a fala, os gestos, o olhar, o modo como nos expressamos e nos apresentamos ao mundo... Tudo é linguagem, tudo comunica, tudo em nós compõe a história que, dia a dia, escrevemos sem nos dar conta. Somos um complexo e requintado sistema de comunicação que emite sinais e códigos, os quais originam informações variadas aos nossos interlocutores. Nosso corpo, nossa postura, nosso estilo, nosso modo de ver o mundo e de viver são como palavras, frases e parágrafos que dão ao texto a coesão e a coerência necessárias para que possamos compreendê-lo na íntegra.” (CHALITA, 2003, p.29).

É curioso constatar que, uma vez estabelecida, uma boa relação entre professor e aluno(s), os alunos declaram que tudo melhorou: “o professor é mais amigo”, “conversa mais com a gente”, “estamos entendendo bem o conteúdo”, “o professor se interessa pela nossa turma” e “os resultados da aprendizagem estão acima da média”.
Desta forma, acredita-se que a emoção deve ocupar um espaço amplo na ação pedagógica, já que a vida emocional e afetiva evolui tanto quanto a cognitiva, sendo tão educável quanto essa. Assim, têm-se as seguintes considerações: a relação professor-aluno envolve uma dimensão afetiva fundamental ao processo de construção do conhecimento, em qualquer nível de ensino; o professor atua como mediador da dimensão afetiva entre o aluno e o conhecimento; e a ação pedagógica implica relação entre sentimento e pensamento.
Constata-se então, fundamental, verificar se o professor demonstra em sua prática em sala de aula uma visão ampla, considerando o aprendiz em seus aspectos emocionais e cognitivos de forma integrada. Observa-se que muitas vezes o professor desconsidera o lado afetivo do aluno e tende a fragmentá-lo buscando apenas o desenvolvimento cognitivo deste, esquecendo-se que este é uma totalidade, envolvendo não só aspectos cognitivos e motores, mas aspectos afetivos.

“Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope. A própria denominação Homo sapiens, a espécie pensante, é anacrônica à luz do que hoje a ciência diz acerca do lugar que as emoções ocupam em nossas vidas. Como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto e às vezes muito mais quanto à razão.” (GOLEMAN, 1996, p.18).

A teoria de Henri Wallon (1975) embasa este artigo acerca deste assunto, por exigir uma prática que atenda as necessidades das crianças nos planos afetivo, cognitivo e motor, além de promover o seu desenvolvimento em todos os níveis. Pois, para Wallon (1975) a emoção é o agente mediador da ação pedagógica.
Uma reflexão extremamente relevante sobre as implicações da teoria de Wallon para a educação, especificamente sobre o papel do professor, nos é apresentada:

“Wallon, psicólogo e educador, legou-nos muitas outras lições. A nós, professores, duas são particularmente importantes. Somos pessoas completas: com afeto, cognição, e movimento, e nos relacionamos com um aluno, também pessoa completa, integral, com afeto e cognição e movimento. Somos componentes privilegiados do meio de nosso aluno.” (ALMEIDA,2000, p.86).

Então, os professores estão preparados para saber lidar com suas próprias emoções e com as emoções dos alunos, e ainda acima disto conjuntamente, promover a aquisição de conhecimentos e valores adequados à formação do cidadão do nosso tempo?

2 A EVOLUÇÃO – A RAZÃO A PARTIR DA EMOÇÃO

Daniel Goleman (1996) descreve passo a passo como o cérebro evoluiu. Da mais primitiva raiz, o tronco cerebral, surgiram os centros emocionais. Milhões de anos depois, na evolução dessas áreas emocionais, desenvolveu-se o cérebro pensante, ou “neocórtex”, o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas superiores. O fato de o cérebro pensante ter se desenvolvido a partir das emoções muito revela acerca da relação entre razão e sentimento; existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional.
Com o advento dos primeiros mamíferos, vieram novas camadas, chave do cérebro emocional, chamada de sistema “límbico”, de limbus, palavra latina que significa “orla”. Esse novo território neural acrescentou emoções propriamente ditas ao repertório do cérebro. Quando estamos sob o domínio de anseios ou fúria, perdidamente apaixonados ou transidos de pavor, é o sistema límbico que nos tem em seu poder.
À medida que evoluía, o sistema límbico foi aperfeiçoando duas poderosas ferramentas: a aprendizagem e memória. A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque ela  forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória; em outras palavras, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos. Assim, aprendizagem e memória são o suporte para todo o nosso conhecimento, habilidades e planejamento, fazendo-nos considerar o passado, nos situarmos no presente e prevermos o futuro.
Há cerca de 100 milhões de anos, o cérebro dos mamíferos deu um grande salto em termos de crescimento. Por cima do tênue córtex de duas camadas as regiões que planejam, compreendem o que é sentido, coordenam o movimento —, acrescentaram-se novas camadas de células cerebrais, formando o neocórtex.
O neocórtex é a sede do pensamento; contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. Acrescenta a um sentimento o que pensamos dele — e permite que tenhamos sentimentos sobre idéias, arte, símbolos, imagens. Esse acréscimo ao cérebro introduziu novas nuanças à vida emocional. Concluindo, o neocórtex abriga a sutileza e complexidade da vida emocional, como a capacidade de ter sentimentos sobre nossos sentimentos, tendo um papel importante no desenvolvimento de tarefas e ações diárias.
Nos seres humanos, a amígdala (do grego, significando “amêndoa”) é um feixe, em forma de amêndoa, de estruturas interligadas, situado acima do tronco cerebral, perto da parte inferior do anel límbico. Há duas amígdalas, uma de cada lado do cérebro, instaladas mais para a lateral da cabeça. O hipocampo e a amígdala eram duas partes importantes do primitivo “nariz cerebral” que, na evolução, deu origem ao córtex e depois ao neocórtex. Até hoje, essas estruturas límbicas são responsáveis por grande parte da aprendizagem e da memória do cérebro; a amígdala é especialista em questões emocionais. Se for retirada do cérebro, o resultado é uma impressionante incapacidade de avaliar o significado emocional dos fatos; esse mal é às vezes chamado de “cegueira afetiva”.
Sem peso emocional, os contatos interpessoais ficam insossos. A amígdala cortical funciona como um depósito da memória emocional e, portanto, do próprio significado; a vida sem essa amígdala não tem o menor significado do ponto de vista emocional.
Vejam só o poder que têm as emoções em perturbar o próprio pensamento. Os neurocientistas usam o termo “memória funcional” para a capacidade de atenção que guarda na mente os fatos essenciais para concluir uma determinada tarefa ou problema, sejam os aspectos ideais que se busca numa casa quando examinamos vários prospectos, sejam os elementos de um problema de raciocínio num teste. O córtex pré-frontal é a região do cérebro responsável pela memória funcional. Mas os circuitos que vão do cérebro límbico aos lobos pré-frontais significam que os sinais de forte emoção — ansiedade, raiva e afins — podem criar estática neural, sabotando a capacidade do lobo pré-frontal de manter a memória funcional. É por isso que, quando estamos emocionalmente perturbados, dizemos: “Simplesmente não consigo raciocinar” — e por que a contínua perturbação emocional cria deficiência nas aptidões intelectuais da criança, mutilando a capacidade de aprender.

3 HENRI WALLON E SUA TEORIA

Henri Wallon nasceu em Paris, França, em 1879. Graduou-se em Medicina e Psicologia. Fez também Filosofia. Atuou como médico na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ajudando a cuidar de pessoas com distúrbios psiquiátricos. Em 1925 criou um laboratório de Psicologia Biológica da Criança. Quatro anos mais tarde, tornou-se professor da Universidade Sorbonne e vice-presidente do Grupo Francês de Educação Nova — instituição que ajudou a revolucionar o sistema de ensino daquele país e da qual foi presidente de 1946 até morrer, também em Paris, em 1962.
Ao longo de toda a vida, dedicou-se a conhecer a infância e os caminhos da inteligência nas crianças. Militante de esquerda participou das forças de resistência contra Adolf Hitler e foi perseguido pela Gestapo (a polícia política nazista) durante a Segunda Guerra (1939-1945).
Em 1947 propôs mudanças estruturais no sistema educacional francês. Coordenou o projeto Reforma do Ensino, conhecido como Langevin-Wallon — conjunto de propostas equivalente à nossa Lei de Diretrizes e Bases. Em 1948 lançou a revista Enfance, que serviria de plataforma de novas idéias no mundo da educação — e que rapidamente se transformou numa espécie de bíblia para pesquisadores e professores.
Sua teoria pedagógica diz que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que um simples cérebro e enfatiza o papel da emoção no desenvolvimento humano, pois, todo o contato que a criança estabelece com as pessoas que cuidam dela desde o nascimento, é feito de emoções e não apenas cognições. Baseou suas idéias em quatro elementos básicos que estão a todo o tempo em comunicação: afetividade, emoções, movimento e formação do eu.
A teoria das emoções é de grande importância na obra de Wallon. Segundo o autor (1975), a emoção é a exteriorização da afetividade, um fato fisiológico nos seus componentes humorais e motores e, ao mesmo tempo, um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao seu meio.
A emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo recém-nascido para estabelecer uma relação com o mundo humano. Gradativamente, os movimentos de expressão, primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem comportamentos afetivos mais complexos, nos quais a emoção, aos poucos, cede terreno aos sentimentos e depois às atividades intelectuais.
As emoções são instantâneas e diretas e podem expressar-se como verdadeiras descargas de energia. Quando isto ocorre, elas têm o poder de se sobrepor ao raciocínio e ao conhecimento. Já a afetividade, corresponde à energia que mobiliza o ser em direção ao ato, enquanto a inteligência corresponde ao poder estruturante que o modela a partir dos esquemas disponíveis naquele momento.
Exteriorizando os dois outros elementos da teoria de Wallon (1975), tem-se o movimento e a formação do eu. A primeira mostra-nos que as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação.
Descrevendo a segunda teoria Wallon (1975) a construção do eu depende essencialmente do outro. Com maior ênfase a partir de quando a criança começa a vivenciar a “crise de oposição”, na qual a negação do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si própria. Isso acontece mais ou menos em torno dos três anos, quando é a hora de saber que “eu” sou. Imitação, manipulação e sedução em relação ao outro são características comuns nesta fase.

4 EXEMPLO
O calor humano contagia sempre,
provoca transformações
no coração do próximo.
(Autor Desconhecido)

Percebe-se claramente o efeito positivo ou negativo que as pessoas do nosso convívio possuem na nossa formação como pessoa, o texto abaixo do colunista do Diário Catarinense, e psicólogo Luiz Carlos Prates do dia 04/02/2008 é um bom exemplo para demonstrarmos a importância do saber utilizar bem a emoção para se obter um bom resultado.
“Muitas vezes, quando estamos moídos por dentro o de que mais precisamos é de uma palavra de ânimo. Uma palavra dita na hora certa, vinda de um coração amigo, produz alívio, energias, fé, cura, vida... Do mesmo modo como Augusto dos Anjos afirma no seu magnífico poema Versos Íntimos que a mão que afaga é a mesma que apedreja, também a palavra que produz elevação de um espírito caído pode produzir lástimas, lágrimas, depressão e inesquecíveis feridas. Mas não é de palavras corrosivas que quero falar. Quero é contar um caso notável que recolhi das histórias narradas pelo psicanalista italiano Willy Pasini, autor do livro Auto-Estima, descubra o que afeta sua imagem e viva melhor.
Ele conta a história de uma menina, Elisa, sua amiga na adolescência e um caso especial de mudança de vida. Elisa era filha de agricultores, criada entre muitos irmãos e com frieza pelos pais. Palavras de incentivo, afetos que a fizessem ter como criança as bases de uma saudável auto-estima, ah, disso ela não lembrava. Lembrava que ela era o patinho feio da família. Se não a chamavam exatamente assim, era assim que ela se sentia. Até que um dia tudo mudou.
Elisa tirava notas baixas no colégio, era-lhe difícil estudar, crer em si mesma, desenvolver-se, enfim. Como disse, um dia tudo mudou. Uma professora, depois que Elisa tirara mais uma vez notas baixas em sua disciplina, disse à menina que acreditava nela, disse que Elisa com seus olhos tão inteligentes era capaz de tirar notas melhores e ser uma boa aluna.
Elisa ouviu o que lhe disse a professora e voltou para casa com a frase na cabeça: "Uma menina com olhos tão inteligentes, olhos tão inteligentes..." A frase virou-lhe um mantra, Elisa passou a olhar-se constantemente no espelho para ver os seus olhos tão inteligentes... A vida dela começou a mudar. Ela incorporou a idéia dos olhos inteligentes e virou uma menina inteligente na escola, ainda que em casa tudo continuasse igual. Elisa transformou-se num sucesso escolar.
Uma história vulgar? Sem dúvida. Mas fica dessa história "vulgar" uma soberba lição que não devemos esquecer: podemos tirar qualquer pessoa do poço dos desânimos e levá-la ao Everest das realizações com algumas palavras. O triste dessa verdade é que somos, no cotidiano, avarentos ao dar às pessoas o de que elas, não raro, mais precisam: palavras de vida.
Que linda essa professora que disse à Elisa que ela tinha olhos inteligentes, que linda.”
Percebe-se a tarefa de educar demanda posturas e conhecimentos diferenciados da parte do professor, pois ele desempenha o papel de mediador do processo escolar de aquisição da cultura pelo aluno, e, portanto, de cultivador de aptidões. Desta forma, apresenta-se uma tarefa complexa, que requer habilidades e conhecimentos específicos, autoconhecimento e conhecimento do universo social do professor e do aluno, para aí então tomar decisões comprometidas com a constituição da pessoa do aluno e sobre o que ele necessita para desempenhar melhor suas tarefas escolares.
É preciso salientar também que, na ação pedagógica, no ato de ensinar e aprender, é preciso considerar a afetividade do aluno como uma dimensão inseparável da inteligência. Ao se trabalhar a relação afetiva pretende-se alcançar o objetivo de promover o desenvolvimento do aluno. É importante da parte do professor a clareza da própria afetividade, pois isso lhe permitirá agir com controle e firmeza no exercício de suas funções.
E sem dúvida, o estabelecimento de laços afetivos entre professor e aluno que contribui, significativamente, para a fluência das diferentes tarefas escolares, desde que estas tenham como meta permitir ao aluno alcançar autonomia frente ao professor e ao conhecimento. E o próprio Wallon (1975) que afirma, condições afetivas favoráveis facilitam a aprendizagem.

Todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pela evolução, para uma ação imediata, para planejamentos instantâneos que visam a lidar com a vida. A própria raiz da palavra emoção é do latim movere — “mover” — acrescida do prefixo “e-“, que denota “afastar-se”, o que indica que em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bem clara quando observamos animais ou crianças; é somente em adultos “civilizados” que tantas vezes detectamos a grande anomalia no reino animal: as emoções — impulsos arraigados para agir — divorciadas de uma reação óbvia.” (GOLEMAN, 1996, p.20).

As emoções são as expressões da pessoa; elas precedem, acompanham e orientam as atividades de relação e, assim, permitem acesso ao mundo exterior: as atividades de relação, por sua vez, permitem às emoções encontrar vias de escoamento eficazes e localizados visando à ação ou o conhecimento.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola significa professor, porque é dentro dela que ele vive, é lá a sua oficina, uma oficina cultural, de caráter, de personalidade, pois cabe ao mestre justamente forjar o futuro cidadão, para que ele possa ser realmente uma pessoa completa e usufruir todo o seu extraordinário potencial. O professor faz toda a diferença, porque está em suas mãos formar o caráter de cada um de seus alunos e desenvolver as suas personalidades.
Justamente por essa profissão ser não uma das mais nobres, mas a mais nobre, a mais importante dentro de uma sociedade, é que cada professor tem uma responsabilidade extraordinária. Essa responsabilidade não está apenas no fato de construir conhecimentos por meio dos estudos, das leituras, nas bibliotecas, mas, acima de tudo, no fato de buscar dar uma direção à vida do aluno, para que ele se faça forte e soberano sobre si mesmo, para que promova seu autoconhecimento, para que busque fazer da sua vida algo que possa torná-lo melhor.
Por isso, justamente por toda essa sua função gloriosa, extraordinária, é que ele, mais do que qualquer outro profissional, tem de cuidar de si, porque ele só poderá, por meio do seu ideal magnífico e tão solidário, dar às pessoas a alma do seu conhecimento.
Cabe ao professor ser forte e desenvolver um organismo capaz de resistir a todas as dificuldades que possui essa profissão. É uma profissão delicada, difícil, mas de rara beleza. Por isso, o melhor que existe para esse mestre é buscar o melhor aperfeiçoamento humano e pessoal. Isso só se torna possível dentro de um organismo desenvolvido, apto a suportar os mais diversos e difíceis esforços, sem perder o controle emocional, a alegria, a vivacidade, o ânimo, a energia e a disposição.
As emoções, portanto, são importantes para a racionalidade. Na dança entre sentimento e pensamento, a faculdade emocional guia nossas decisões a cada momento, trabalhando de mãos dadas com a mente racional e capacitando — ou incapacitando — o próprio pensamento. Do mesmo modo, o cérebro pensante desempenha uma função de administrador de nossas emoções — a não ser naqueles momentos em que elas lhe escapam ao controle e o cérebro emocional corre solto.
Não é que se deseja eliminar a emoção e pôr a razão em seu lugar, mas ao contrário; encontramos o equilíbrio inteligente entre as duas, harmonizando a cabeça e o coração. Saber fazer isso bem em nossas vidas, implica precisar primeiro entender com mais exatidão as emoções para obter melhores resultados, tanto nas relações interpessoais quanto na execução de nossas tarefas.
Conforme considera Legal (1996) a face é uma poderosa fonte de informações nas relações interpessoais. Ela demonstra aos outros nosso estado motivacional e pode dar pistas sobre o funcionamento de algumas atividades cognitivas. Que tenhamos então professores, com modelos educacionais que viabilizem uma melhora qualitativa das interações entre educador e educando.
Pois, à medida que professor e alunos se aproximam, passam a vivenciar as dificuldades de outra maneira. O grupo sente-se encorajado a saná-las, pois percebe que tem no professor um aliado comprometido com o sucesso de todos.
 Chalita (2007) descreve que, mestres e aprendizes compõem os dois lados de uma mesma moeda cujo valor é incalculável. Trata-se de uma relação que deve ser fundamentada na confiança, no respeito, na certeza de crescimento mútuo. Trata-se de um dos caminhos capazes de nos conduzir a um tempo e a um lugar cujos “ensinamentos” possam ser belos, profundos e dignificantes.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHALITA, Gabriel. Pedagogia do amor: a contribuição das histórias universais para a formação de valores das novas gerações/ Gabriel Chalita — São Paulo: Editora Gente, 2003.

CHALITA, Gabriel. Por que educar com amor? Disponível em: < http://gabrielchalita.cancaonova.com/internas.php?id=3>. Acesso em: 14 dez. 2007.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente/Daniel Goleman; tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.

LEGAL, Eduardo José. Expressões facias de emoções: desenvolvimento da percepção de assimetrias. São Paulo, 1996.

MAHONEY, Abigail Alvarenga. Wallon e a Educação. In: Henri Wallon — Psicologia e Educação/Abigail Alvarenga Mahoney, Laurinda Ramalho de Almeida, org. São Paulo: Editora Loyola, 2000.

WALLON, Henri. Psicologia e Educação da infância. Lisboa: Estampa, 1975.