Contextualizando:
Há quanto tempo não posto, hein?!?!
Mas, voltei - quem o sabe -, disponibilizando aqui no MEU blog os artigos da minha graduação em Letras (2003) e das pós-graduações em: Orientação Escolar (2007) e Psicodedagogia (2007).
Postei na íntegra e da forma como entreguei para os professores da banca.
Penso que o conhecimento deve ser compartilhado e não somente escrito para algumas pessoas.
Demorei para postar, mas nunca é tarde!
Boa leitura!
Elo.
Es-Cri-Tos
Visite, também: twitter.com/eloiza_pinheiro
terça-feira, 3 de junho de 2014
O conceito de texto escrito
O CONCEITO DE TEXTO
ESCRITO NA VISÃO DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Eloiza Pinheiro¹
Osmar de Souza, Dr²
Resumo: O artigo resulta de uma pesquisa
realizada em escola pública, no segundo semestre de 2003, na região de Itajaí
(SC). Envolveu 12 alunos do ensino fundamental, oitava série. Formularam-se
duas perguntas: o que significava texto para o aluno e o que significava
escrever na escola. Partiu-se de uma concepção de que o texto escrito manifesta
sempre um significado, por mais simples que seja. Outra percepção teórica vem
de que escrever produz conhecimento, ou seja, os conhecimentos prévios podem
ser importantes e decisivos, mas o simples fato de alguém escrever o expõe ao
diálogo com o outro. Isso cria um embate cujo resultado é um olhar a própria
textualidade reflexivamente. O aluno, orientado por uma cultura de sala de aula
repetitiva, não consegue nem formular um sentido de texto para ele e nem vê
sentido em escrever na escola.
Palavras-claves: Texto; conceito; alunos; ensino
fundamental.
Resumen: El artículo resulta de una
investigación realizada en escuela pública, en el segundo semestre de 2003, en
la región de Itajaí (SC). Envolvió 12 alumnos de la enseñanza fundamental,
octava serie. Se formularan dos preguntas: lo que significa texto para el
alumno y lo que significa escribir en la escuela. Partimos de una concepción de
que el texto escrito manifesta siempre un significado, por más simples que sea.
Otra percepción teórica viene de que escribir produce conocimientos, o sea, los
conocimientos prévios pueden ser importantes y decisivos, pero el simple acto
de alguién escribir lo expone al diálogo con el otro. Eso crea un choque cujo
resultado es mirar la própria textualidad. El resultado de la investigación
está dirigida nun sentido diferente. El alumno, orientado por una cultura de
clase de enseñanza repetitiva, no consigue ni formular un sentido de texto para
él, y, ni encontrar un sentido en escribir en la escuela.
Palabras-llaves: Texto; concepto; alumnos; enseñanza
fundamental.
___________________________
¹ Acadêmica do Curso de Letras da
Universidade do Vale do Itajaí.
² Orientador e Professor do Curso de Letras
da Universidade do Vale do Itajaí.
Introdução
A composição de um texto é
um processo amplo. Para sua produção, é necessário não somente a competência,
mas também o desempenho do aluno na sala de aula. Partindo dos conceitos de
Noam Chomsky, é possível entender que competência todos têm, já o desempenho
parte do uso efetivo da língua. (Cassany, 1999) O escritor competente é aquele
que incorpora o processo de escrita e o desenvolve de maneira contínua e o “não
competente”, no deslocamento a ser descrito nesta pesquisa, é aquele que não
descobriu ainda a sua textualidade.
Escrever não é pôr três
letras e signos num papel branco, mas elaborar um significado global sobre um
tema e torná-lo compreensível para uma audiência. Este é um primeiro problema
conceitual e procedimental: para quem o aluno escreve na escola? Algumas
respostas na pesquisa de que resulta este artigo apontam reflexões. Para se
obter uma melhor qualidade do processo de escrever, é necessário que haja
consciência da audiência, (quem vai ser o leitor de fato).
Ao chegar na escola, nas
fases iniciais, a criança já descreve coisas, pessoas, contos, fatos, opina
sobre acontecimentos do seu cotidiano como: um jogo de futebol, sobre a novela
das oito, entre outros... Ou seja, o aluno possui implicitamente um conceito de
texto, oral, com algumas características. Um dos desafios da escola seria
transformar as experiências orais em expressões escritas. Isso significa que o
aluno passa de expressões mais espontâneas a outras mais elaboradas,
estratégicas. Uma delas é o texto escrito, mas este movimento ainda não é
percebido nesta pesquisa.
Há pouco tempo o texto na
escola era pretexto para a correção gramatical. Hoje se altera esta percepção
para o texto como expressão de conhecimentos vividos pelos alunos. A hipótese
que orienta esta nova perspectiva é a de que o aluno, tendo contato com vários
tipos de textos reais, histórias, notícias, bulas, receitas, cartas, entre
outros, aos poucos incorpore também os aspectos gramaticais. Mas, como diz um
aluno o escrever pode ser apenas “perda de tempo”.
A pesquisa foi
desenvolvida numa escola pública, com doze alunos do ensino fundamental em
nível de oitava série. O instrumento foi uma entrevista escrita, em que se
perguntou aos alunos: “O que é um texto para você?” e “O que significa para
você escrever textos na escola?”.
Os objetivos específicos
desta pesquisa foram: identificar conceitos que se aproximam de construção de
significados em oposição aos que se aproximam de tarefa escola e relacionar os
conceitos dos alunos com a literatura pesquisada. Como objetivo geral visou-se
compreender a concepção de texto em alunos de oitava série de uma escola
pública.
Assim, este artigo
sumariza a pesquisa desenvolvida e discute as implicações de manifestações
feitas pelos alunos, relativamente ao processo pedagógico de escrever.
REVISÃO
DA LITERATURA
Neste momento, faremos uma
breve sumarização sobre texto e o que significa escrever na escola. Temos
consciência de que um conceito demora para ser percebido, vivenciado,
manifestado. Talvez muitos sujeitos
passaram pela escola, em todos os níveis, e ainda não tenham clareza do que seja
um texto. Consequentemente, o escrever torna-se complexo, não só pela sua
própria natureza, mas pela não vivência do texto como instância de produção de
conhecimento. (Souza, 2003)
Para Silva (1999, p.18)
Texto significa “tecido, entrelaçamento”. Por isso, podemos dizer que o texto é
o resultado da ação de tecer, de entrelaçar partes a fim de formar um todo. É
uma rede de unidades entrelaçadas, ou seja, um conjunto de frases e orações que
se unem para dar sentido às idéias que se deseja expressar. Nessa perspectiva,
texto é muito mais que justaposição de frases e palavras.
É curioso, como veremos
adiante nas expressões dos alunos, como o conceito até aparece na expressão na
expressão do aluno, possivelmente parafraseado de algum professor. Mas, não se
manifesta em sua própria experiência. É um conceito distante do aluno.
Ainda de acordo com o
mesmo autor, toda construção cultural que tem significado constituído a partir
de um sistema de códigos e convenções pode ser chamada de “texto”; uma carta,
uma notícia de jornal, um bilhete de cinema, são exemplos de textos. O autor
está se referindo ao que hoje se chama “gêneros textuais”. (Meurer, 2000)
“O texto já se revela
“finito”, por uma extensão física, visual e oral, conforme seja escrito ou
oral. Enquanto materialidade física o texto se coloca como “produto”, com a sua
“legibilidade”, “audiabilidade”, instaurada”. (Orlandi, 1988, citada por Souza,
2000, p.2). Como discurso, o texto se inscreve na interpretabilidade e
compreensibilidade. (cf Orlandi, op. cit.). Em outros termos, quem escreve um
texto tenta determinados “feitos de sentido”. (SOUZA, 2000, p. 2). O que a
pesquisa mostra é a ausência de sentidos.
Para Clarice Nunes, citada
por Bianchetti, (1997, p. 96), “escrever [...] é mais do que realizar uma
exposição de achados. É o efeito de uma transformação pela qual passamos,
enquanto sujeitos que nos assumimos e assumimos os riscos pressentidos na
escrita”. “Escrever é o ato que, aparentemente, não pode ser realizado sem
significar”. “[...] antes de ser o exercício de uma competência, o ato de
escrever é uma maneira de ocupar o sensível e de dar sentido a essa ocupação”.
(RANCIÉRE, 1995, p.07) Entra em discussão aqui o aspecto mais político, social
do escrever, que parece distante, pelo menos na expressão dos alunos aqui
pesquisados.
Conforme Bianchetti,
(1997, p. 97) “[...] na escrita, o produtor do texto deve fazer uso de
planejamento, de produção e de uma série complexa de relações lógicas que
articulam os elementos do seu discurso. E deve, ainda, levar em conta que seu
texto deverá ser entendido por um leitor”. Esse entendimento é chamado por
Cassany, (1999) de audiência.
De acordo com Cassany,
(1999, p. 28) “quando falamos ou escrevemos, (e também quando escutamos ou
lemos), construímos textos e, para fazê-lo, precisamos dominar muitas
habilidades: discriminar as informações relevantes das irrelevantes,
estruturá-las numa ordem cronológica e compreensível, escolher as palavras
adequadas, ligar as frases em si e construir o parágrafo”. “[...] o que pode
corrigir o mal da escrita é uma outra escrita”. (RANCIÉRE, 1995, p. 10)
Atravessando esse conjunto
de predicados de um texto, aparece a noção de intersubjetividade que
caracteriza qualquer texto. Um texto só se realiza se houver o leitor, isso implica
um diálogo entre sujeitos, temporal e espacialmente deslocados. Esse lado mais
dialógico do escrever na escola parece estranho no falar dos alunos.
A habilidade de escrever
conforme Souza e Bohn, (2000) não é desenvolvida espontaneamente pelo cérebro.
Postula-se que exige esforço e motivação pessoal e ambiente instrucional
próprio para constituir-se.
Aprender a escrever para
Coll e Teberosky, (2000, p. 165) é um processo de fases sucessivas que inclui
atividades de leitura, de pesquisa e anotações do que se leu, ouviu ou pensou,
assim como a realização de esquemas ou mapas conceituais para organizar as
idéias, a redação de várias versões e sua revisão até chegar a uma versão
definitiva. No processo de redação de textos, essas fases nem sempre seguem uma
ordem rígida e, às vezes, algumas podem até mesmo ser suprimidas. Ao escrever a
partir das informações que já tínhamos sobre o tema, essas anotações podem ser
modificadas dando lugar a uma nova organização das idéias, exigindo outra
pesquisa.
Todo texto se atualiza
numa língua, entendida desde Saussure como um sistema de signos específicos,
histórico e social, que possibilita a homens e mulheres a significar o mundo e
a sociedade. (SOUZA, 2000)
Poderíamos nos perguntar,
como por exemplo Teberosky o faz, apoiada em Coulmas: o que poderia existir num
mundo sem escrita? Nenhum dos traços mais cotidianos da nossa sociedade moderna
poderia passar por esse teste: teríamos de imaginar um mundo sem livros, sem
livrarias nem bibliotecas, sem anúncios, sem receitas médicas, sem educação
sistemática, sem dicionários ou enciclopédias, sem instruções de rádios, de
computadores, um tipo de religião diferente, um tipo diferente de leis, de
literatura, sem ciência e sem lingüística. ( TEBEROSKY, 1995, p. 55)
Segundo Silva, (1999, p.
22) um pensamento que traduz uma grande verdade é: “os alunos aprendem a
escrever escrevendo”. “[...] pois, escrever é um processo de construção e
reconstrução de sentidos em relação ao que se v}e, ao que se ouve, sente e
pensa. Por isso, é muito difícil para o aluno escrever sobre um assunto sobre o
qual ele não fez nenhuma leitura. Portanto, quanto maiores experiências de
leitura a criança tiver, mais fácil será o processo de criação textual”. (
SILVA, 1999, p; 45)
De acordo com Cassany,
(1999, p. 80) só se pode adquirir a escrita através da leitura. Da mesma forma
que adquirimos a fala escutando e compreendendo textos escritos. Se a leitura é
suficiente, a aprendizagem adquire automaticamente todas as regras gramaticais
e textuais de que se necessita para escrever. Pois, a resposta de Smith é muito
simples: “aprende dos todos já escritos por outros escritores”.
Mas, para que os alunos
escrevam, eles precisam estar motivados. É necessário que o professor esteja
atento a todos os elementos que possam estar interferindo no processo de
produção de textos, como desde o espaço físico, os recursos materiais
utilizados até a predisposição do aluno para a realização da tarefa. (SILVA,
1999, p. 46)
Vários autores citados por
Teberosky chamam a escrita de “a maior invenção manual intelectual criada pelo
homem”. Um deles, Goody, a chama de “a tecnologia do intelecto”. [...] Também
existe um consenso na idéia de que a escrita é um instrumento. (TEBEROSKY,
1995, P. 55)
[...] A escrita é um
objeto social cuja presença e funções ultrapassam o marco escolar e porque a
criança é um sujeito ativo e construtivo do seu próprio conhecimento.
(TEBEROSKKY, 1995, p. 65)
Apesar dessas percepções
teóricas há muito presentes nos debates acadêmicos, ocorre ainda uma cultura de
sala de aula, no que respeita à textualidade bastante estranha, como veremos a
seguir.
O
QUE DIZEM OS ALUNOS
Lembramos ao leitor que
duas questões foram feitas: “Qual o significado de um texto para você?”, “O
significa para você escrever na escola?” Sobre a primeira pergunta, maioria dos
alunos definem o que é um texto,
Um
texto não é nada mais do que um amontoado de palavras que foram escritas em
harmonia, formando um sentido próprio, por isso podemos afirmar que o texto é a
forma escrita de se expor os pensamentos e os sentimentos. (CALAFATI, Jocimar) Se olharmos para
esta resposta, ela é uma paráfrase de autores como Silva, citado anteriormente.
De onde vem esta formulação? Provavelmente de um professor.
E a minoria respondeu que
escrevem para a professora,
[...] quando a professora pede para elaborar um texto, uma redação ou uma
poesia temos que se inspirar no assunto. (OLIVEIRA, Edilcéia) O atributo de
inspiração vem rebatido por Cassany (1999), embora seja de circulação entre os alunos.
Estabelece-se como uma crença, cujas explicações escapam ao controle do
professor. Cassany prefere o entendimento de que a pessoa assuma a
textualidade, o que escapa ao controle temporal que muitas vezes marca o
escrever na escola. Solicita-se um texto e fixa-se o tempo de realização. E
nesse processo onde fica a re-escrita?
Escrever nesta última
proposição vem muito como resposta a um comando estabelecido. O que significa
mesmo para este aluno “se inspirar no assunto?”
Por que não se orientar no próprio texto? O que o texto mesmo disse? O
leito entenderia?
Sobre a segunda pergunta,
as respostas apontam para: repetir o que a professora explica (a explicação do
professor é vista como verdade),
[...]
porque o texto escolar ensina a matéria explicada pelo professor e quando ele
escreve no quadro é a mais boa vontade de lhe explicar uma certa matéria que
você está com dificuldade. (
CALAFATI, Jocimar) Esta última afirmação remete a uma certa ambigüidade, porque
tanto diz do ato de escrever como do ato de ensinar. Essa fala corrobora com o
pensamento de Orlandi (1988) sobre o discurso pedagógico, como circular, ou
seja, essencialmente repetitivo.
Escrever na escola
significa produzir conhecimentos, preencher espaços de tempo,
Super
bom escrever textos na escola uma que distrai um pouco a cabeça, outra é
aprender mais e passar o tempo escrevendo. (OLIVEIRA, Lays) Depoimento preocupante, se pensarmos no
que significa um tempo de ações dentro e fora da escola. Como as pessoas ocupam
o seu tempo? Reservariam tempo para escrever também fora da escola, ou este
preenchimento é algo já institucionalizado?
E um aluno que ainda não
se descobriu com a textualidade declara a sua angústia,
Texto
para mim não significa nada, só faz perder tempo (GIOSELE, Everton) Este aluno
manifesta o seu “não sentido”. E quantos na escola revelariam semelhante
expressão?
Embora se possa
problematizar e complexificar essas respostas, talvez elas cheguem próximo do
que Coracini (1995) tem chamado de atividades institucionalizadas. Faz-se
porque já se fez, mas não se pergunta por quê? Para quem? Em geral, aponta-se
para um escrever sem audiência.
Considerações
Finais
Lembramos que o primeiro
objetivo específico da pesquisa era identificar conceitos de textos que se
aproximassem da construção de significados. Mas, as falas apontam para o
oposto, escrever é muito mais atividade escolar, que parece encerrar-se na
própria escola.
Sobre o segundo objetivo
específico, ou seja, relacionar os conceitos com a literatura hoje disponível, os
alunos até constroem um conceito, parafraseando professores, mas ficam distante
desses conceitos relativamente às suas próprias vivências.
As falas dão conta do
objetivo geral, qual seja compreender a concepção de texto, no caso, muito mais
voltada à escola do que para a significação de suas práticas sociais.
O saber expor os
pensamentos em palavras escritas é o grande dilema ainda para os alunos. Quando
se fala em texto para o aluno, ele já pensa em redações chatas, com assuntos
repetitivos e sem significado algum para o seu crescimento pessoal e
intelectual.
Há uma distância entre o
que a vida social exige, em termos de textualidade e o que o aluno incorpora
durante a sua vida escolar.
Para os alunos
pesquisados, escrever na escola não é mais do que preencher espaços e o tempo
durante as aulas. Poderíamos deduzir, então, que o texto não é um formador de
significado para o aluno e sim palavras e mais palavras escritas para ganhar
nota e passar tempo com essa atividade.
O texto pouco significa
para o aluno. Uma nova pesquisa poderá questionar o que significa para o aluno
o texto fora da escola.
Referências
Bibliográficas
BIANCHETTI, Lucídio. Trama e texto: Leitura e crítica escrita criativa - Gráfica
Edelbra; Volume II. Passo Fundo – Rio Grande do Sul, 1997. 222 p.
CASSANY, Daniel. Descrever o Escrever: como se aprende a escrever/ Daniel Cassany;
traduzido por Osmar de Souza. – Itajaí: Univali, 1999. 220 p.
COLL, César. Aprendendo português: conteúdos essenciais para o ensino
fundamental de 1ª a 4ª série. César Coll, Ana Teberosky. Ática, São Paulo.
2000.
CORACINI, Maria José. Legitimação do livro didático. Campinas: Pontes 1995.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. São Paulo: Ática, 1988.
RANCIÉRE, Jacques. Políticas da escrita/ Jacques Ranciére; tradução de Raquel
Ramalhete... [et al] – Rio de Janeiro: Ed. 34, 1995. P.256- Coleção TRANS.
SILVA, Antônio de Siqueira e. Tecendo textos: ensino da língua
portuguesa através de projetos/ A. S. Silva, R. Bertolin, Tânia A. Oliveira.
1ed. São Paulo: IBEP, 1999 – Coleção Novo Tempo.
SOUZA, Osmar de. BOHN, Hilário I. A auto análise integrante do Mundo Textual.
2000.
SOUZA, Osmar de. Gêneros textuais e competências educativas. 2000. (Mimeo)
SOUZA, Osmar de. Textualização acadêmica: mitos e polifonias. Itajaí: Ed. Univali,
2003.
TEBEROSKY, Ana. Aprendendo a escrever perspectivas psicológicas e implicações
educacionais./ Ana Teberosky; traduzido por Claúdia Schilling- 2ª ed. São
Paulo- Ática, 1995. 198 p.
O papel do Orientador Educacional
O PAPEL DO ORIENTADOR EDUCACIONAL NAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE
NAVEGANTES[1]
Eloiza Pinheiro[2]
Cristina Kuroski[3]
RESUMO: O presente artigo analisa a partir da realidade do
município de Navegantes, o papel dos Orientadores Educacionais – sua prática –
em confronto com os fundamentos teóricos e a falta de identidade deste
profissional – na execução de tarefas sem serem as das suas atribuições – e
verificar se isso realmente prejudica no desempenho de sua “verdadeira” função.
Esta análise fundamenta-se em dados coletados do questionário aplicado ao
universo de profissionais desta área nas escolas locais. Com este instrumento,
certifica-se que há pontos na sua maioria positivos, que as atribuições
determinadas em lei estão presentes no cotidiano da escola, mas, que ainda
vivenciam-se nas unidades escolares aspectos que deveriam ser repensados dentro
de cada equipe, para então, serem solucionados da melhor maneira possível.
PALAVRAS CHAVES: Orientador Educacional; Atribuições; Identidade
Profissional.
RESUMEN:
Este artículo analiza desde la realidad de la municipalidad de Navegantes, el
papel de los orientadores educacionales – en
la práctica de su confrontación con los fundamentos teóricos y de la falta de
identidad de este profesional en la ejecución de las tareas sin que sean de sus
atribuiciones – y comprobar si eso realmente
prejudica el desempeño de su "verdadera" función. Este análisis se
basa en datos recogidos en el cuestionario aplicado al universo de los
profesionales de esta área en las escuelas locales. Con este instrumento, se
asegura que hay puntos en su mayoria positivos, que las tareas especificadas en
la ley están presentes en la vida cotidiana de la escuela, pero que todavía se
viven en las unidades escolares, aspectos que deben ser reconsiderados dentro
de cada equipo, para que, se resuelvan de la mejor manera posible.
PALABRAS CLAVES: Orientadores Educacionales; Atribuiciones; Identidad Profesional.
PALABRAS CLAVES: Orientadores Educacionales; Atribuiciones; Identidad Profesional.
[1] Artigo científico referente ao trabalho de conclusão de
curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão
Escolar, Supervisão,
Orientação e Interdisciplinaridade na Educação Básica.
[3] Professora Orientadora.
1 INTRODUÇÃO
Considerando
que a identidade profissional delineia-se a partir da coerência entre os
valores pessoais e as expectativas sociais, questiona-se a identidade atual dos
orientadores educacionais, pois se observa na prática que, este profissional
está, em muitas situações, desacreditado, por submeter-se a atribuições não pertinentes
à sua função, gerando assim, conflitos de identidade – mesmo tendo suas
atribuições determinadas em documentos legais (Decreto nº. 7.2846/73), que
direciona a sua prática, bem como define as condições para o exercício da
profissão.
O presente
artigo analisa a partir da realidade do município de Navegantes, as questões
relacionadas à identidade e valorização do orientador educacional.
Esta análise
fundamenta-se em dados coletados do questionário aplicado ao universo de
profissionais desta área nas escolas locais.
Para analisar
o papel dos Orientadores Educacionais – sua prática – em confronto com os
fundamentos teóricos e a falta de identidade deste profissional – na execução
de tarefas sem serem as das suas atribuições – e verificar se isso realmente
prejudica no desempenho de sua “verdadeira” função foi desenvolvida, em
parceria com a Secretaria de Educação do Município de Navegantes, Santa
Catarina, uma pesquisa tendo como instrumento uma entrevista escrita, em que se
perguntou aos Orientadores Educacionais da Rede Municipal de Navegantes
questões relacionadas às suas atribuições e ao dia-a-dia da escola, focando
como principal questionamento: Qual o papel do Orientador Educacional no campo
escolar?
Assim, este
artigo sumariza a pesquisa desenvolvida e discute as implicações de
manifestações feitas pelos orientadores, comparando-as com as suas verdadeiras
atribuições.
2 OS DESDOBRAMENTOS DA FUNÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
É preciso
que, segundo Folberg (1986, p.24) o orientador educacional se posicione quanto à
ética profissional debatendo, questões práticas, capazes de suscitar-lhe
operações de pensamento que o desafiam e levam à reflexão e à pesquisa em busca
de uma autêntica identidade, apoiada em valores significativos.
Com isso, é
necessário que o orientador educacional redefina sua metodologia de atuação,
sendo um desafio que se impõe como condição para “conquistar” um espaço ainda
indefinido na prática.
Para
constituir-se em agente de equipe, é fundamental que o orientador educacional
promova o diálogo entre os membros da escola, pois ser membro de equipe, não se
trata de fazer comentário com o outro a respeito de sua atuação ou à daquele. E
sim, refletir quanto à essência do trabalho pedagógico – o processo de ensino e
aprendizagem.
O orientador
educacional para somar à equipe educacional, precisa conhecer o papel de cada
um dos integrantes do contexto escolar, bem
como, esclarecer, quanto ao fundamento do seu papel nesse cenário.
A Orientação Educacional,
no contexto atual, busca maior aproximação com o projeto pedagógico da escola e
pretende contribuir, satisfatoriamente, não mais para atender alunos
“problemas”, mas para discutir, junto com todos os alunos e professores os
problemas que vivenciamos e as soluções possíveis de serem atingidas.
(GRINSPUN, 1996, p.143)
Assim, cabe
ao Orientador Educacional contribuir para que o processo ensino- aprendizagem
ocorra de forma suave e espontânea, pois o processo de construção do
conhecimento é complexo e cheio de desafios. As crianças que deste processo
fazem parte, não tem o mesmo perfil, portanto, são seres que trazem consigo uma
diversificada e única bagagem cultural, social e afetiva construída ao longo de
sua vida e esta bagagem deve ser muito bem aproveitada no processo de
ensino-aprendizagem.
Como afirma Mirian
Grinspun (1996, p.14) a Orientação Educacional, por certo, procurará
compreender e ajudar o aluno inserido no seu próprio contexto, com sua cultura
e seus próprios valores, pois que ele é o centro do processo educacional, e
sujeito principal do campo de trabalho da
Orientação; portanto, o aluno é o sujeito da educação, e o sujeito é o objeto
da Orientação – refere-se assim, ao papel do Orientador Educacional em orientar,
guiar, conduzir o indivíduo.
E no trabalho
com o aluno, o resultado não é imediato como demonstra as palavras do poema “Conselho”:
“Não colhe agora o botão que, somente
amanhã, promete desabrochar. Dá seiva à roseira que, por si só, a rosa se
abrirá num sorriso a te oferecer suas pétalas... seu perfume... dócil e
integralmente.”(BOTELHO,apud Miranda, 1983,p.22)
Para um desempenho eficiente e de abrangência
de suas funções, o Orientador Educacional necessita ainda: conhecer e manter
contato com as famílias dos alunos; colaborar para o bom aproveitamento escolar
dos discentes; integrar-se com a equipe técnica e docente para intervir
adequadamente em relação aos aspectos éticos,
cívicos e religiosos bem como nas áreas do desenvolvimento físico, emocional e
vocacional dos educandos. E ser capaz de ouvir até o que o aluno não diz,
quando o silêncio é uma conversa e a companhia é o conforto no meio do nada como
observamos na descrição destas palavras:
“Quando me
sento junto de alguém, sei que isso é alguma coisa, mesmo que eu nada tenha de
valioso a dizer. Não necessito da evidência constante de que estou sendo
efetivo e útil. Posso apenas me sentar e oferecer minha companhia. Já vivi
situações em que minha dor não podia ser compreendida, mas em que me sentia
confortável apenas estando com alguém realmente disponível para mim, alguém que
nada exigia, alguém que não podia compreender meu coração dilacerado, mas que
era uma companhia – como um lugar aonde se vai, quando se está fraco e só
– uma presença humana, a civilização
depois do deserto. É muito quando eu apenas me sento junto de alguém. Mas
acredito que ajuda dizer que pretendo sentar em silêncio. Ajuda a
fazer do nada alguma coisa.”(GENDLIN,1974,apud Miranda, 1983; p.62)
Porém,
sabe-se que as dificuldades são muitas: descrédito deles próprios em relação ao
seu trabalho por falta de apoio, tendo a família que praticamente não participa,
e ainda, alguns professores que não aceitam as ações do Orientador Educacional.
Destinada por fim, a este profissional a mera função – em algumas realidades – de
apenas solucionar os casos problemáticos, não resolvidos em sala de aula, tratando-se,
apenas de ações terapêuticas.
3 SURGIMENTO E AS ATRIBUIÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL
Analisando as
origens da Orientação Educacional, ela praticamente surgiu no início do século
XX, nos Estados Unidos, e com o fim primeiro de orientar os estudantes para uma
adequada escolha de trabalho, com intenções, pois, de orientação profissional.
Mas o contato direto com o educando foi revelando as suas inseguranças e
dificuldades, ampliando-se, então, a ação para uma assistência mais ampla e
completa, a fim de melhor orientá-lo para a vida pessoal e social.
O sistema
escolar brasileiro não ficou insensível ao movimento da Orientação Educacional,
que passara a sensibilizar, praticamente, os sistemas da maioria dos países.
Sendo assim,
a primeira tentativa de Orientação Educacional no Brasil deve-se ao notável
educador, Lourenço Filho, quando diretor do Departamento de Educação do Estado
de São Paulo, criando o “Serviço de Orientação Profissional e Educacional”, em
1931. O referido “Serviço” foi dirigido pela psicóloga Noemy Silveira Rudolfer.
Este “Serviço”, interrompido em 1932 e reiniciado no mesmo ano por Fernando de
Azevedo, foi definitivamente extinto em 1935, tendo como objetivo maior guiar o
indivíduo na escolha de seu lugar social pela profissão.
A segunda
tentativa de implantação da Orientação Educacional deve-se a duas não menos
ilustres educadoras, Aracy Muniz Freire e Maria Junqueira Schmidt que, em 1934,
implantaram um serviço dessa natureza na Escola de Comércio “Amaro Cavalcanti”,
da Prefeitura do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, tendo como
conseqüência inúmeras atividades nesta área.
A expressão
“Orientação Educacional”, empregada para designar um serviço auxiliar da
escola, aparece pela primeira vez, na Legislação Federal, no Decreto-lei n.º 4.073,
de 30-1-42 (Lei Orgânica do Ensino Industrial) vindo, a seguir, o de n.º 4.424,
de 9-4-42 ( Lei Orgânica do Ensino Secundário) e, depois, o de n.º 6.141, de
28-12-43.
A formulação
mais precisa, no entanto, aparece na Lei Orgânica do Ensino Secundário
(Decreto-Lei n.º 4.424, de 9-4-42), quando diz:
“Art. 80. Far-se-á,
nos estabelecimentos de ensino secundário, Orientação Educacional.
Art. 81. É
função da Orientação Educacional, mediante a necessária observação, cooperar,
no sentido de que cada aluno se encaminhe convenientemente nos estilos e na
escolha de sua profissão, ministrando-lhe esclarecimentos e conselhos, sempre
em entendimento com sua família.
Art. 82. Cabe
ainda à Orientação Educacional cooperar com os professores no sentido da boa
execução, por parte dos alunos, dos trabalhos escolares, buscar imprimir
segurança e atividade aos trabalhos complementares e velar para que o estudo, a
recreação e o descanso dos alunos decorram em condições de maior conveniência
pedagógica.”
A Lei n.º 5.564,
de 21-12-68, diz a respeito:
“Art. 1. A Orientação Educacional se
destina a assistir o educando individualmente ou em grupo, no âmbito das
escolas e sistemas escolares de nível médio e primário, visando ao
desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade, ordenando e
integrando os elementos que exercem influência em sua formação e preparação
para o exercício das opções básicas.”
E,
finalmente, a Lei n.º 5.692, de 11-8-71, consagra a Orientação Educacional,
conforme se desprende das palavras abaixo:
“Art. 10.
Será instituída, obrigatoriamente, a Orientação Educacional, incluindo
aconselhamento vocacional, em cooperação com professores, família e
comunidade.”
A
regulamentação da profissão de Orientador Educacional veio, no entanto, com o Decreto
n.º 72.846, de 26-9-73 onde regulamenta a Lei n.º 5.564, de 21-12-68, que provê
sobre o exercício da profissão de Orientador Educacional. Nesta lei encontramos
nos artigos 1º e 8º a descrição da função e das atribuições necessárias à
Orientação Educacional.
“Art. 1º - Constitui o objeto da Orientação
Educacional a assistência ao educando, individualmente ou em grupo, no âmbito
do ensino de 1º e 2º graus, visando ao desenvolvimento integral e harmonioso de
sua personalidade, ordenando e integrando os elementos que exercem influência
em sua formação e preparando-o para o exercício das opções básicas.
Art. 8º - São
atribuições privativas do Orientador Educacional:
a) Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do
Serviço de Orientação Educacional em nível de: 1- Escola; 2- Comunidade.
b)
Planejar e coordenar a implantação e funcionamento do
Serviço de Orientação Educacional dos órgãos do Serviço Federal, Estadual,
Municipal e Autárquico; das Sociedades de Economia Mista, Empresa Estatais,
Paraestatais e Privadas.
c) Coordenar a orientação vocacional do educando,
incorporando-o ao processo educativo global.
d)
Coordenar o processo de sondagem de interesses,
aptidões e habilidades do educando.
e)Coordenar o processo de informação educacional e
profissional com vistas à orientação vocacional.
f) Sistematizar o processo de intercâmbio das informações
necessárias ao conhecimento global do educando.
g) Sistematizar o processo de acompanhamento dos alunos,
encaminhando a outros especialistas aqueles que exigirem assistência especial.
h) Coordenar o acompanhamento pós-escolar.
i) Ministrar disciplinas de Teoria e Prática da Orientação
Educacional, satisfeitas as exigências da legislação específica do ensino.
j)
Supervisionar estágios na área da Orientação Educacional.
k)
Emitir pareceres sobre matéria concernente à Orientação
Educacional.
Art. 9º -
Competem, ainda, ao Orientador Educacional as seguintes atribuições:
a)
Participar no processo de identificação das
características básicas da comunidade.
b) Participar no processo de caracterização da clientela
escolar.
c) Participar no processo de elaboração do currículo pleno
da escola.
d) Participar na composição, caracterização e
acompanhamento de turmas e grupos.
e) Participar do processo de avaliação e recuperação dos
alunos.
f)
Participar do processo de encaminhamento e
acompanhamento dos alunos estagiários.
g) Participar no processo de integração escola-família-comunidade.
h)
Realizar estudos e pesquisas na área da Orientação
Educacional.”
Isso não
significa que o Orientador Educacional deva cumprir todas as atribuições
mencionadas no decreto, obrigatoriamente, o tempo todo, quaisquer que sejam as
circunstâncias. Conhecendo o conteúdo da lei que regulamentou sua profissão,
dentro dos limites impostos pela mesma e de acordo com a realidade na qual
esteja atuando, o Orientador Educacional poderá selecionar e hierarquizar o que
será realizado a cada ano.
Mas,
observando a necessidade e a importância que a Orientação Educacional assume
nas escolas brasileiras, é preciso pensar no preparo adequado dos recursos
humanos destinados a essa área, preparo esse que deve incluir, necessariamente,
o domínio dos fundamentos teóricos da ação e o conhecimento da parte prática
correspondente ao exercício das atividades profissionais do Orientador
Educacional.
4 FALAS QUE CONFIRMAM A PRÁTICA - O QUE DIZEM AS ORIENTADORAS DO
MUNICÍPIO DE NAVEGANTES.
Oração da Serenidade
“Deus me dê a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar,
a coragem de mudar as coisas que posso mudar
e a sabedoria para reconhecer a diferença.”
(Oração dos Alcoólatras
Anônimos)
Inicialmente,
justifico o termo Orientador – no título – no feminino por abranger somente
este gênero nos questionários respondidos. Em seguida, como já comentado
anteriormente, realizou-se uma pesquisa ressaltando-se
a falta de sensibilidade de alguns destes profissionais que não entregaram seus
questionários – significando esta ausência de informações, que os próprios
profissionais da área, não valorizam e nem lutam pela importância da função –, deixando
assim, de enriquecer ainda mais este artigo com a contribuição de suas “falas”.
Iniciando a
análise com a pergunta central desta pesquisa: Qual o papel do Orientador
Educacional no campo escolar?, observa-se que as orientadoras conhecem as
atribuições constantes no Artigo 9º da lei
nº. 5. 565, de 21-12-1968,
“Articular o currículo e a Proposta
Pedagógica da Unidade Escolar e dos diferentes segmentos que compõem e fazem
parte do Ensino Fundamental.”;
“O papel do Orientador Educacional é
articular escola-família-comunidade e possibilitar o outro a ser, crescer,
vivenciar suas emoções.”;
“É diretamente com aluno, ajudando-os em seu
desenvolvimento pessoal, em parceria com os professores para compreender melhor
seu comportamento; orientando, ouvindo e dialogando com os pais responsáveis.
Cabe a Orientadora procurar ajudar o aluno valorizando a fala deste para o seu
desenvolvimento social-escola, família, comunidade.”
Nestas
respostas encontramos claramente, o saber necessário e obrigatório para
desempenhar com competência sua função na escola.
Quando
interrogadas: Se a escola possui outros especialistas, como vocês delimitam o
campo de ação de cada profissional, considerando-se haver uma inter-relação
entre estas funções: Supervisor Escolar; Orientador Educacional?, somente uma
orientadora respondeu de forma ampla, mas com uma
visão não conclusiva ao que seriam às reais funções de cada um, “Supervisor Escolar - atuar de forma
integrada; Orientador Educacional - atuar de forma integrada em diferentes
áreas.”
Nas demais
respostas têm-se clareza na distinção entre o desempenho de suas atribuições e
relações, apresentando-se assim, um ponto muito
positivo para as Unidades Escolares na atualidade, “Supervisor Escolar - auxiliando o professor para que a educação
aconteça efetivamente; Orientador Educacional- auxiliando o aluno em busca do conhecimento.
O.E e S.E. de mãos dadas buscando qualidade na educação.”
E para
constatarmos a relação entre os envolvidos no âmbito escolar, as orientadoras
responderam sobre: Como é a sua rotina na escola em relação: aos alunos; aos
professores; à direção e por fim, à comunidade. Nas palavras delas, percebe-se
que tendo uma boa parceria com o professor, tem-se um melhor resultado no
trabalho do Orientador Educacional, porém num outro questionamento, duas
orientadoras dizem que há professores que não reconhecem o trabalho delas,
dificultando e muito todo o processo, inclusive de ensino-aprendizagem e o
ponto negativo aqui: quem sai perdendo são os alunos!
Outra
pergunta trás a tona um assunto delicado que ocorre muito nas escolas. É comum,
na falta de professores o Orientador Educacional assumir a aula ou às aulas. As
orientadoras foram questionadas ao que seria viável fazer nesta ausência do
professor titular e uma das respostas demonstrou uma realidade triste, mas que
muito acontece, “Sempre vou para a sala
de aula, apesar de cada um fazer o seu trabalho todos dependem uns dos outros,
mas sugeria um professor ocioso, mas a realidade é outra.”
As demais
respostas entram no rol do desempenhar seu papel, “O Orientador Educacional necessita de planejamento, sendo assim o mesmo
está sempre pronto para atender qualquer sala. Pois o trabalho do Orientador
Educacional também é conscientizar e refletir os demais temas transversais e
atuais da realidade escolar.”;
“Ter algumas aulas extras já previamente
programadas, vídeos, informática...”;
“Organizamos algumas atividades e as
monitoras repassam aos alunos na falta de professores.”
Estas
afirmações indicam que esta prática pode ter alguns inconvenientes, pois o
Orientador Educacional poderá ser considerado como um substituto eventual de
professores, o que contribuirá para o estabelecimento de confusões de funções,
comprometendo, inclusive, a sua imagem – temos aqui um ponto desfavorável.
Mostrando,
agora, mais um ponto positivo, as orientadoras pesquisadas manifestam profundo
domínio quando o assunto é indisciplina escolar. Questionadas sobre como
auxiliam o professor a resolver os impasses indisciplinares, a resposta foi
unânime seguindo o mesmo procedimento, “Geralmente
em casos indisciplinares o aluno vem para Orientação onde converso, oriento no
que for preciso. Muitas vezes quando o caso é mais sério, usamos as seguintes
medidas: 1- Conversar e orientar para melhor relacionamento. 2- Bilhetes
comunicando aos pais sobre o fato ocorrido. 3- Chamar os pais na Escola para
melhor esclarecimento do ocorrido e pedir que tome alguma medida e vice-versa.”
Sendo que
algumas complementam: “Quando extrapolam
as normas escolares, os deveres, influenciando assim no direito do outro,
recorro às medidas propostas no P.P.P. da Unidade Escolar.”;
“...e também o trabalho do Conselho Tutelar,
pois já obtive experiências e deu certo.” “Devemos utilizar todos os recursos,
o trabalho do Orientador Educacional jamais deve ser isolado.”;
“Desenvolvendo algum tipo de motivação para
ganhar confiança dos alunos e melhor resolver estes problemas.”
E diante da
interrogação: Que fundamentos você utiliza para a orientação dos estudantes? Todas
assinalaram indicando que possuem conhecimentos de psicologia, do Estatuto da
Criança e do Adolescente – E.C.A. – e de campanhas de atendimento às crianças e
aos pais.
E finalizando
a análise do questionário, as orientadoras avaliaram o desempenho da sua
função, apontando avanços, sucessos e fragilidades. Quase que como desabafos,
estas palavras demonstram bem a realidade vivida por elas nas suas Unidades
Escolares:
“Quanto mais tempo melhores avanços e sucessos, e às vezes, não consigo
desempenho melhor por causa das dependências da Escola, espaço físico, salas
superlotadas”.
“Avanço: O professor vê o Orientador
Educacional como seu aliado. Sucesso: O aluno sabe que pode contar com o
Orientador Educacional. Fragilidade: Conseguir que todos os alunos tenham
“vontade” de estudar.”;
“Fazemos o possível para melhorar o
desempenho de nova proposta no ensino-aprendizagem de todas as séries ao qual
trabalhamos, nossa maior fragilidade é quanto à situação social de nossas
famílias, a falta de interesse dos pais pela vida escolar do filho. Os sucessos
são muitos: a volta de um aluno para a escola, o aluno faltoso e desinteressado
tornando-se ao final do bimestre aquele que mais progrediu. E acompanhar o
aluno em toda sua trajetória escolar e hoje sendo adulto, tendo um bom emprego.”;
“Tudo o que é realizado com planejamento,
comprometimento e amor o resultado será o sucesso. Quanto às fragilidades somos
seres humanos no qual temos emoções, inclusive erramos, mas é com os erros que
crescemos e acertamos.”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomando ao objetivo
principal deste artigo que era saber se a ação dos Orientadores Educacionais de
Navegantes está realmente relacionada com as atribuições referidas em lei e
constatar a identidade deste profissional, foi possível identificar resultados
positivos relevantes à compreensão do verdadeiro papel destes profissionais da
educação. A entrevista escrita constituiu-se
num importante documento de registro do que se vivencia nas unidades escolares
deste município.
Com este
instrumento, certifica-se que há pontos na sua maioria positivos, que as
atribuições determinadas em lei estão presentes no cotidiano da escola, mas,
que ainda vivenciam-se nas unidades escolares aspectos que deveriam ser
repensados dentro de cada equipe, para então, serem solucionados da melhor
maneira possível; Pois, “quanto mais clara e precisa a definição das metas da
profissão, mais objetivo e definido será o desenvolvimento deste profissional.”
(FOLBERG, 1986, p.23).
Um dos pontos
que mais chama a atenção para a confusão quanto ao papel do orientador, é o
fato de substituir o professor na sua ausência. Nesta ação, o orientador
desempenha seu papel num horário que o aluno deseja estar em vários lugares da
escola: pátio, laboratório, por não ter o professor titular daquela aula e menos
desenvolvendo as atividades propostas pelo Orientador.
Por este
motivo, a sugestão a dar, é que o orientador planeje com antecedência deixando
seu material sempre pronto – principalmente o de apoio – para estas
emergências. Pois, trabalhando neste momento com temas importantes e
desempenhando seu papel na formação dos alunos, temos aqui um ponto positivo,
porque esta ação torna-se muito diferente do que um simples “tapa buraco”; E o
ponto negativo é o fato de que esta “ação” dependa das faltas de professores
para ser colocada em prática.
Outros aspectos
que dificultam muito o trabalho do Orientador e que fica bem claro nas falas
são em relação às dificuldades, tanto nas dependências da escola, falta de
interesse dos pais em relação aos filhos e, por incrível que pareça, quanto a
não aceitação por parte de alguns professores da função de orientação,
dificultando a relação de parceria em busca de uma educação de qualidade. E
este último ponto é o que mais chamou a atenção, porque professores com esta
atitude, só tem a perder, pois na conversa com o orientador o professor pode
melhor compreender o comportamento do seu aluno e agir de maneira adequada em
relação a ele, ou até, ajudar no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo
com sugestões no desenvolvimento de atividades e procurando em parceria,
soluções para sanar estes e outros problemas que estejam presentes em sala. É
importante que o diálogo, a troca de idéias, a cooperação e o auxílio mútuo
sejam constantes e sempre de acordo com os princípios éticos. A escola não deve
se transformar em um campo de disputas entre profissionais. O que deve haver,
na mesma, são esforços conjuntos para a finalidade comum que é o pleno
desenvolvimento do aluno, pois é essencial que a relação seja de qualidade; quando
sua capacidade de entendimento aumenta, suas intervenções práticas se tornam
mais tranqüilas e seguras.
Finalmente,
sugere-se que sejam realizados programas de sensibilização para professores,
alunos e pais, no sentido de compreenderem o valor da ação competente, parceira
e comprometida do Orientador Educacional em relação ao ensino de qualidade, tão
necessário às crianças brasileiras.
Ah, se todos
em suas vidas tivessem – na hora em que mais precisássemos –, um alguém que
pudesse nos ouvir, ou simplesmente nos fazer companhia; e dependendo da
situação, ao final, nos devolver palavras de orientação, consolo e
principalmente de amor, entenderíamos, por fim, o verdadeiro valor de um
Orientador Educacional!
E...
“Seja paciente com as coisas não-resolvidas
em seu coração...
Tente amar as próprias questões...
Não procure agora as respostas
que não podem ser dadas
pois você não seria capaz
de vivê-las.
E o mais importante,
é viver tudo.
Viva as questões agora.
Talvez você possa, então,
pouco a pouco,
sem mesmo perceber,
Conviver, algum dia distante,
com as respostas.”
(RILKE, 1969, apud Miranda, 1983, p.160)
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FOLBERG, Maria N. de alii. Orientação educacional em questão. Maria N. Folberg (org). 2. ed. Porto Alegre: Movimento,
1986.
GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin
(Org). A prática dos orientadores educacionais.
2. ed. São Paulo: Cortez;1996.
MIRANDA, Clara Feldman de e
Márcio L. de M. Construindo a relação de
ajuda. Belo Horizonte: Crescer, 1983.
NERICI, Imídeo Giuseppe – 1915 – Introdução à orientação educacional/
Imídeo Giuseppe Nérici. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1992.
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